Uma vez fui palestrar numa grande fábrica em uma cidadezinha no
interior do Rio Grande do Sul. Conversei com um diretor da empresa que
me disse que o auditório da fábrica era o melhor – talvez único – da
cidade e que eles se orgulhavam disso, mas que quando decidiram
construí-lo foi uma dureza convencer outros diretores de que era algo
necessário. O “valor”, que para aquele diretor era o significado do
auditório como um ponto de distribuição de conhecimento, integração e
celebração, para os outros diretores era inexistente. Auditórios em
fábricas não dão lucro, só despesas. E por isso não devem ser
construídos...
Em minha palestra A FÓRMULA DA INOVAÇÃO, discuto
essa questão da percepção de valor. Percepção é coisa íntima, cada um
tem a sua, não dá para emprestar, vender, comprar ou medir. E “valor” é
relativo. Quer ver?
Entre os textos que circulam na Internet existem pérolas, como esta que recebi anos atrás:
“Um
homem de idade já bem avançada veio à Clínica onde trabalho para fazer
um curativo na mão ferida. Estava apressado, dizendo-se atrasado para um
compromisso e enquanto o tratava perguntei-lhe sobre qual o motivo da
pressa. Ele me disse que precisava ir a um asilo de anciãos para, como
sempre, tomar o café da manhã com sua mulher que estava internada lá.
Disse-me que ela já estava há algum tempo nesse lugar porque tinha o mal
de Alzheimer num estágio bastante avançado.
Enquanto acabava de fazer o curativo, perguntei-lhe se ela não se alarmaria pelo fato de ele estar chegando mais tarde.
- Não, ele disse. Ela já não sabe quem eu sou. Faz quase cinco anos que não me reconhece.
Estranhando, perguntei:
- Mas se ela já não sabe quem o senhor é, porque essa necessidade de estar com ela todas as manhãs?
Ele sorriu e dando-me uma palmadinha na mão, disse:
- É . Ela não sabe quem eu sou, mas eu sei muito bem quem ela é.
O valor que para o médico era o reconhecimento do esforço, para o marido era a satisfação de retribuir um amor.
Mais
uma história: no início dos anos de 1920, George Mallory, o então mais
famoso alpinista inglês, preparava-se para escalar o monte Everest. Um
jornalista curioso perguntou-lhe “por quê?”. E Mallory deu a resposta
definitiva:
- Porque ele está lá.
O valor que para o
jornalista era a fama e a fortuna obtidas com a conquista do Everest,
para Mallory era simplesmente a satisfação de chegar lá.
As
histórias do auditório na fábrica, do velhinho no consultório e de
George Mallory no Everest, mostram como é difícil entender e aceitar
atitudes que aparentemente não buscam resultados tangíveis, mensuráveis.
A vida toda somos treinados para trocar coisas: dou meu esforço e em
troca recebo algo que posso contar, pendurar na parede, pesar, guardar
no cofre ou no banco. Quando esse algo é “apenas” a realização de um
sonho, a retribuição de um amor ou outro benefício intangível, ficamos
espantados, quase que sem saber como reagir e perguntando: mas só isso?
Essas “coisas” não tem valor...
Pois
é. Acreditar que é possível expressar a complexidade de nossas vidas
apenas em valores tangíveis explica muito do que se vê de feio por aí.
Escrito por Luciano Pires
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