Eu estava trabalhando neste texto quando aconteceu a tragédia de
Santa Maria. Acho que esta reflexão ganha mais importância ainda.
E
lá vou eu palestrar mais uma vez para uma grande empresa, mais de mil
pessoas na platéia. Chego ao maravilhoso teatro com três horas de
antecedência para não dar margem a erros e vou direto testar o
equipamento. Começo a ficar preocupado quando vejo a quantidade de gente
da “equipe técnica”. Garotos e garotas, felicíssimos com seus
intercomunicadores. A cada pergunta, um “isso é com o fulano”, “isso é
com a fulana”... e chama no rádio. Tenho que esperar o teste da
orquestra, que atrasou. O tempo passando, e nada. Quando me chamam,
pedem desculpas, mas só o som poderá ser testado, pois estão com um
problema no projetor etc e tal. Falta pouco mais de uma hora para o
início do evento. Faço o que é possível e, sem testar a imagem, me
retiro para o camarim onde fico sozinho, lendo, num estado zen, me
preparando para arrasar.
Começa o evento, eu ouvindo o som
abafado, e a coisa vai atrasando. Quarenta minutos de atraso e soltam a
turma para o café. Eu entro depois do café. Uma menina esbaforida vem me
chamar, estão precisando de mim no palco. Vou correndo. O computador
não compartilha a imagem com o telão. Eu arrumo. A imagem está
distorcida. Eu mexo nas configurações e nada muda, é claro que o
problema é no projetor. E então ele vem... O técnico. Amador. Um garoto
com seus 27 anos de idade. Eu olho de longe e o vejo chegando até meu
laptop com dedos de ogro. Frio no estômago. E lá vai ele, mexer nas
configurações como eu havia feito. Não adiantou eu dizer que já havia
feito, ele faz de novo. E não resolve. Chamo o chefe dele. Amador.
Mostro o problema, dou a dica do que pode ser e então vejo a expressão
de “numsei”. Vou reduzindo o ritmo e volume da fala aos poucos, diante
da expressão que deixava claro que nem o técnico, nem o chefe do técnico
sabiam como arrumar a encrenca. Eram amadores. E o café terminando. Não
há tempo de fazer mais nada. Meu “estado zen” foi pro saco. Resultado:
a [LINK=http://keynotespeakers.com.br/]palestra[/LINK] no evento
milionário, com iluminação milionária, cenário milionário e equipe
milionária, tem uma projeção de merda.
Eu sou um amador em tudo o
que faço. Palestro como um amador, escrevo como um amador, produzo meus
vídeos como um amador. Mas amador não no sentido pejorativo e sim no de
que amo o que faço. Faço com amor. Com paixão. E quem ama uma coisa,
quer saber mais sobre ela, se aperfeiçoar, aprender, melhorar. Até virar
amador profissional...
É impressionante a quantidade de amadores
que encontro que, de posse de ferramentas ou métodos, se acham capazes
de cumprir qualquer tarefa. Não é assim. Ferramentas e métodos nas mãos
de quem não sabe o que fazer com eles são mais que inúteis. São
perigosos. E vira-e-mexe me pego discutindo com o amador, o sabe tudo,
sobre um problema que já enfrentei antes. Mas sabe como é, não sou o
técnico...
Quando o amador é consciente de sua ignorância e tem a
humildade de ouvir as sugestões de alguém que pode, veja bem, eu disse
pode, dar alguma luz, é possível transformar um problema em aprendizado.
Mas quando o amador não tem consciência – e às vezes se orgulha! - de
sua estupidez, só existe conflito. E de quando em quando uma tragédia.
O Brasil é a República dos Amadores. Daqueles.
Escrito por Luciano Pires
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